quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A dialética da Personalidade e a Consciência de Classe

A dialética também se aplica ao desenvolvimento da personalidade dos indivíduos. Psicologicamente as crianças formam sua personalidade através da oposição de dois impulsos contraditórios. A relação de forças desses impulsos é que vai dar o tom da personalidade em formação. O primeiro, o impulso da cultura, faz com que as crianças absorvam os gestos, hábitos, a maneira de falar, gírias e a própria forma de raciocinar dos seus amigos e família. O segundo, o que nos importa, é um impulso da sua diferenciação. Se o primeiro predominasse absolutamente sem este segundo, todas as pessoas seriam iguais, mas como isto não ocorre as crianças lutam para se tornar diferentes, isto é, vão construindo sua identidade através da forma que encontram para se diferenciar. Imaginemos uma mãe com dois filhos gêmeos, existem todas as condições necessárias para que sejam pessoais iguais, o impulso da cultura age da mesma forma em ambas, no entanto, um dos filhos, por exemplo, pode perceber que lendo livros que as pessoas da sua idade não lêem vai se destacar em quanto o outro, para não ser igualado e comparado ao irmão, pode decidir praticar esportes. Assim, irmãos gêmeos se tornam pessoas distintas.

Para que o proletariado instaure sua revolução o primeiro passo é formar consciência de classe, isto é, construir uma personalidade histórica distinta da burguesia. Para isso precisa criar uma identidade orgânica, isto é, uma identidade que lhe seja própria, precisa superar o impulso da cultura e se diferenciar da burguesia. Diferenciando-se como classe o proletariado construirá uma personalidade e se tornará maduro para sua revolução. Hoje o proletariado não se vê como agente distinto da classe que lhe dominana, toda sua superestrutura é oriunda das formas culturais criada pela burguesia, variando apenas em grau e não em essência. Precisamos então nos colocar a esta imediata tarefa histórica, a construção de uma personalidade que nos seja própria.

Gabriel Bragança

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Apagando as luzes

É conhecida a afirmação de que o mundo moderno é baseado na ciência e na razão. E a ciência é oposta da fé. O homem teorizado pelos iluministas baseia suas crenças na experimentação, na descoberta da natureza. Mas terá o sonho iluminista se realizado? Vivemos num mundo em que a fé não tem mais espaço? Deus está morto? Pois bem, quantos de nós realmente vimos um átomo ou uma cadeia de carbono? Quantos foram no sol e descobriram os gases o compõem? Quantos homens foram ao centro da Terra, viram o movimento das placas tectônicas e mediram sua vibração? O telefone, a televisão, o computador, sabemos como funciona? A resposta será quase sempre negativa. Como, então, reconhecemos verdades nessa gama de conhecimentos que se afirmam científicos? Pela educação que recebemos. No final das contas tudo se resume à fé.

Pode-se dizer que se nós não experimentamos essas “verdades” há quem o faça. Com certeza, em algum lugar, há pessoas que são capazes de defender essas teorias, pois trabalham com elas diariamente. Como os medievos respondiam a perguntas como o porquê da chuva, a origem do relâmpago, ou o que é um terremoto? Atribuíam esses eventos a vontade divina. Se não podiam comprová-los havia quem pudesse, isto é, o padre tinha, por sua ligação com Deus, a autoridade para confirmar essas “verdades”. Os cientistas tem hoje o mesmo papel que tinha a igreja nas sociedades medievais. Esse papel tem origem na fé que os leigos depositam neles. A mesma fé que “iludia” o homem pré-capitalista se ergue hoje onipotente, fundamenta nossa sociedade tanto quanto as sociedades que nos precederam. Mas um médico não conhece como funciona o corpo humano? Um químico não trabalha com moléculas, com átomos? Se é verdade que esses indivíduos, por exemplo, podem experimentar e compreender os conhecimentos que defendem, também é verdade que a especialização do trabalho permite que eles conheçam praticamente apenas os assuntos que dominam. Mais do que isso, eles conhecem realmente como funciona os aparelhos, as maquinas que utilizam?

Todas essas “verdades”, toda essa “razão” que nos rodeia são para nós algo como truques, como mágica. Não sabemos como elas funcionam, sua validade está dada por uma cientificidade que fomos educados a acreditar. Mas toda nossa vida é baseada nesses conhecimentos, todas escolas, toda imprensa, todos os governos os retificam. Como poderiam estar mentindo? Como poderiam estar enganados? Como a igreja católica tão universal, os reis, toda nobreza e nossos antepassados poderiam ter feito o mesmo? O raciocínio do homem iluminista permanece idêntico ao medieval, é o raciocínio da crença, não da desconfiança. Se fossemos educados a pensar que existem partículas menores que elétrons, que o telefone distorce o espaço-tempo para que o som chegue do outro lado do planeta quase tão rápido quanto a luz, que a base da vida é o silício, por exemplo, nós discordaríamos? Teríamos base para questionar? Não reproduziríamos essas afirmações como as “verdades” que repetimos hoje? E você? Em que você acredita?

Gabriel Bragança